terça-feira, 4 de agosto de 2015

A alfaiate pobre, a agulha se lhe dobra

A alfaiate pobre, a agulha se lhe dobra.

      “Meu pai morreu em 1948 sem jamais deixar de crer na natureza criadora, sem jamais deixar de amar e de penetrar com o seu amor o mundo sofredor em que vivia, sem jamais perder a esperança de ver brilhar a luz para além das enormes montanhas. Ele pertencia à geração dos socialistas românticos, que tinham como ídolos Vítor Hugo, Romain Rolland, Jean Jaurès, usavam grandes chapéus e conservavam a pequena flor azul da sentimentalidade entre as pregas da bandeira vermelha. Na fronteira da mística pura e da ação social, o meu pai, preso à sua banca de alfaiate mais de catorze horas por dia - e nós vivíamos à beira da miséria – conciliava um ardente sindicalismo e uma busca de libertação interior. Nos gestos muito limitados e humildes do seu ofício introduzira um método de concentração e de purificação do espírito a respeito do qual deixou centenas de páginas. Enquanto fazia casas, ou passava a ferro as fazendas, tinha uma presença resplandecente. À quinta-feira e ao domingo, os meus colegas reuniam-se à volta da sua mesa, para o escutar e sentir aquela presença vigorosa, e a maior parte deles alteraram as suas vidas devido à sua influência.
      (...)
      Morreu nos meus braços, na noite de 31 de Dezembro e disse-me, antes de fechar os olhos:
      ‘É preciso não contar demasiadamente com Deus, mas talvez Deus conte connosco...’
      (Prefácio de Louis Pauwels em “O Despertar dos Mágicos”, dele e de Jacques Bergier.)


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