A alfaiate pobre, a agulha se
lhe dobra.
“Meu pai morreu em 1948 sem jamais deixar
de crer na natureza criadora, sem jamais deixar de amar e de penetrar com o seu
amor o mundo sofredor em que vivia, sem jamais perder a esperança de ver
brilhar a luz para além das enormes montanhas. Ele pertencia à geração dos
socialistas românticos, que tinham como ídolos Vítor Hugo, Romain Rolland, Jean
Jaurès, usavam grandes chapéus e conservavam a pequena flor azul da
sentimentalidade entre as pregas da bandeira vermelha. Na fronteira da mística
pura e da ação social, o meu pai, preso à sua banca de alfaiate mais de catorze
horas por dia - e nós vivíamos à beira da miséria – conciliava um ardente
sindicalismo e uma busca de libertação interior. Nos gestos muito limitados e
humildes do seu ofício introduzira um método de concentração e de purificação
do espírito a respeito do qual deixou centenas de páginas. Enquanto fazia
casas, ou passava a ferro as fazendas, tinha uma presença resplandecente. À
quinta-feira e ao domingo, os meus colegas reuniam-se à volta da sua mesa, para
o escutar e sentir aquela presença vigorosa, e a maior parte deles alteraram as
suas vidas devido à sua influência.
(...)
Morreu nos meus braços, na noite de 31 de
Dezembro e disse-me, antes de fechar os olhos:
‘É preciso não contar
demasiadamente com Deus, mas talvez Deus conte connosco...’
(Prefácio de Louis Pauwels em “O
Despertar dos Mágicos”, dele e de Jacques Bergier.)
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